SOBRE MINHAS POESIAS

Pelo que lembro, comecei a escrever ainda criança. Mas, foi lá pela década de 1970 que intensifiquei esse hábito. No início eram algumas palavras rabiscadas em um pedacinho qualquer de papel que tentavam expressar algo que eu via: uma lembrança, um cheiro, uma saudade, uma paixão, um medo, uma indignação. Nasci no interior do RS, em Bento Gonçalves, no ano de 1951 e como toda jovem interiorana da época fui educada para casar, formar família, ser uma boa esposa  e sonhar com amores eternos e com vida feliz para sempre. Tinha, portanto, a peculiaridade e pieguice do romantismo que me acompanha até hoje, por mais que eu queira superá-lo e queira perceber a vida de maneira mais concreta e real. Mas, sonhar é meu combustível!
Ainda muito menina e por influência de um amigo da família, que carinhosamente chamávamos de tio Queirós, conheci versos de Castro Alves. Ficava encantada vendo o tio recitar a cruz da estrada com tamanha emoção quando vinha nos visitar. Ero o poema que eu mais gostava de ouvir e ouvia, sempre, com muita atenção e procurava decorá-lo inteirinho repetindo-o, à noite, mentalmente, deitada na cama e olhando para o teto vazio, querendo compreender sobre a morte e sobre a escravidão! Também já questionava de que são feitos, de fato, os poetas e o que os inspiravam para que criassem versos dedicados aos escravos e aos seus sofrimentos. Surgiu ai minha curiosidade e interesse pelos temas sociais e libertários. Mas, confesso, perturbavam-me aqueles em que a mulher era uma carne a ser consumida, mesmo que com lirismo!

Aos poucos fui gostando daquela brincadeira de brincar com as letras, de formar frases com as palavras que surgiam sem que eu me esforçasse para criá-las. Não tenho estudo literário e minha formação acadêmica foi voltada para ter uma carreira, sucesso, algo que me sustentasse ao longo da vida.
Também, quando jovem, lia poesias sem preferências por um ou outro poeta, embora reconheça, tinha uma queda e admiração especial por Pablo Neruda, Carlos Drumond de Andrade e Vinícios de Moraes. Eles diziam ao meu amor o que eu não tinha a coragem de falar.
Aos poucos - e a vida é longa, fui buscando conhecer mais sobre as possibilidades que a poesia trás como alento d´alma. De onde vem sua força, suas  inspirações? Que tipo de gente são os poetas?

Assim fui vivendo e escrevendo para mim mesma. Muitas vezes parava de escrever por longos períodos, incrédula da minha capacidade de expressão poética e sempre crítica ao formato e às restritas possibilidades de um vocabulário mais rico e erudito. Mas, quando menos esperava, lá estava ela, aquela necessidade de me expressar através das letras, uma voz chegava  sobrando versos no meu ouvido e lá ia eu deitá-los no papel, porque tudo vem sempre muito sem aviso prévio e é preciso anotar, com urgência, a inspiração que nos visita.
Foi assim que tudo aconteceu. É assim que ainda acontece. Quando vejo, vou trazendo, de dentro para fora, aquilo que me perturba, os sentimentos que me acompanham, seja o presente de uma alegria, a  tristeza que me deprime, a solidão compartilhada com as palavras ocultas nas noites de insônia.

Até que teve um dia que resolvi organizar todos os pedacinhos de papéis. Afinal, a tecnologia facilita esse trabalho. Foi quando, aos poucos, percebi que se não sou poeta de fato, continuo ensaiando e isso me basta! E exerço esse direito que me dá coragem de mostrar o que tenho escrito para meus  amigos, minha família, pessoas que me incentivam a cada dia que passa a continuar escrevendo um pouquinho mais.

E aqui estou, com parte desses guardados e agora exposta como fraturas. Se elas dirão ou não alguma coisa para quem as lê, não sei. O que sei é que vou continuar escrevendo para que meu coração tenha a chance de ficar mais leve, mais feliz e emocionado.

Para mim o poesia é rasgo, é dilaceração do que há de mais íntimo e verdadeiro no ser humano: é a exposição da sua alma!
Preta, Porto Alegre, 2010

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